segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Memorial de leitura

Lembranças... memórias... Somos feitos disso.
Logo cedo as crianças são introduzidas nas letras – que sonho! – porém quando a família não é totalmente letrada, o processo atrasa.
Minha história com a leitura começou paradoxalmente cedo e tarde. Cedo, pois tive tempo de me encantar pelo cheiro de um queijo e de ser desafiada por um pequeno príncipe. Tarde, porque já estava com meus dezenove anos.
Sou de uma família humilde e pais com no máximo a 4ª série completa. Mesmo assim, sempre passaram a mim sobre a importância de estudar, não especificamente sobre a importância do ato de ler.
Anos escolares iniciais. Alfabetização. Operação tartaruga. Soletração. Silabação. Leitura sem compreensão. Falta de fluência. Ainda nesse contexto, uma prima três anos mais nova, que estudava no CA de uma escola particular, a qual tinha uma leitura fluente, além de compreender e recontar com exatidão o que lia. Minha primeira decepção. Eu, ao final da 1ª série, não lia como os outros achavam que eu deveria ler. Comparação com a minha prima. “Isso é impossível! Ela não consegue!”. Eram alguns dos comentários que eu ouvia.
Era difícil para alguém de 7 anos e pouca maturidade entender o que tudo aquilo significava. Nessa época, o meu pouco contato com a leitura dava-se por meio dos livros infantis da minha prima.
Mudança. Retorno a minha cidade natal, Santa Teresa. Passei na escola e estava na 2ª série – pelo menos eu achava!. Segunda decepção. Fui levada à turma da 1ª série da escola onde estava matriculada e solicitada a fazer a leitura de um texto para eles, “sem gaguejar”, senão voltaria para a 1ª série. Essa foi a condição.
Seria possível que eu, para ler, bastava mostrar que era fluente, que não gaguejava?! Que era capaz de unir letras, sílabas, palavras, frases, parágrafos sem obstáculos?! Mais uma vez não tinha maturidade para entender tudo aquilo. Hoje ainda sinto as consequências daquele dia, todas as vezes que tenho de ler algo diante de um público.
No entanto, acredito que em nossa vida não há acasos. Há providências divinas. As coisas acontecem para um determinado fim.
Continuei no colegial e a leitura fazia parte da obrigatoriedade do currículo escolar.
No Ensino Médio, tive contato com a Literatura, a arte da palavra. Li alguns livros, porém tudo muito relacionado com currículo. Foi nesse período que descobri uma “Senhora” chamada Aurélia, que, com sua personalidade e convicções, rompeu um paradigma social de submissão, obediência e fragilidade feminina. Revelou-se forte e decidida.
Um convite: ser professora de informática e de inglês. Novo convite. Um desafio. Aulas de Língua portuguesa. Ingressei na faculdade de Letras, inicialmente por causa do Inglês, contudo, no decorrer do curso, os desafios trazidos pelas professoras de Literatura Brasileira e Portuguesa e de Português fizeram com que o meu contato com a leitura começasse a ser diferente. Fui percebendo que era capaz de ler, compreender, refletir e mudar. Mudar de postura, de pensamento, de opinião. Foi aí que encontrei dois livros “Quem mexeu no meu queijo?”, de John Spencer e “O pequeno príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry. Não li “O pequeno príncipe” para dizer que o fiz como as candidatas ao Miss Universo, mas porque era encantada pelo desenho animado que assistia quando mais nova. Conhecer o novo. Vencer obstáculos. Voar para lugares desconhecidos. Que fascínio? Desconhecido a mim é pensar como poderia ter sido diferente o meu universo se tivesse feito incríveis viagens como o Pequeno príncipe.
Mexeram no meu queijo? Óbvio que sim. Estava na faculdade de Letras e descobri o que elas significavam. “Triste fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, mostrou-me que as frustrações e decepções existem e fazem parte da vida, só não é possível desistir de um objetivo. A diferença entre a minha e a história do protagonista do livro é que a minha história não teve um triste fim.
Hoje, tento ser uma agente de transformação revelando aos outros como que, para gostar de ler, é preciso buscar a leitura.
Percebi que sou responsável por minha própria história... por minhas memórias.
Lilian

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Memorial de leitura

Na minha casa, eu e meus irmãos sempre tivemos contato com os livros. Eles eram os nossos companheiros porque meus pais trabalhavam longa jornada na loja, comerciantes, mas as três meninas liam mais,os quatros rapazes gostavam mesmo era da bola. Tive uma excelente professora alfabetizadora, Dona Arlenice. Durante as aulas de leitura, ela preparava uma atmosfera acolhedora para nos encantar. Vestia-se com os figurinos dos personagens das histórias, levava discos infantis e nos convidava para participarmos das histórias. O lúdico estava presente na minha sala de aula, uma professora à frente do seu tempo. Eu e minha amiga Silvane resolvemos imitá-la. Decidimos criar uma escolinha onde pudéssemos teproduzir toda essa magia para as nossas bonecas. Escolinha Rosa Flor, em homenagem a minha mãe Florípedes, professora aposentada e depois comerciante. Mais tarde os nossos alunos passaram a ser nossos vizinhos pequeninos, para quem líamos a coleção dos clássicos. Minha mãe muito atenta a meu interesse pela leitura comprava novas coleções. Na casa pequena tínhamos estante, na grande, biblioteca. Assim devorava o Tesouro da Juventude, meu preferido na adolescência, Monteiro Lobato e outros. Nessa fase amigas vinham a minha casa e fazíamos tarde de leitura, com a aprovação e corujice da minha mãe, pois ela queria uma filha professora. Na Ufes fiz Letras, li muito e hoje leio as obras psicografadas por Chico Xavier, dentre as minhas preferidas estão "Há dois mil anos " e "50 anos depois".

Etelvina Matilde

Entre tantas... Histórias, Minhas Memórias.

Meu nome é Eliana


A minha história começou quando eu tinha 04 anos, com a vinda da minha avó para minha casa. Lembro que ela contava muitas histórias, entre o real e a fantasia. Ah! Esqueci de falar que ela perdeu a visão aos poucos, ela me distraia junto com uma amiga com deliciosas tardes na varanda contando histórias.


Era uma criança muito curiosa e devido ao meu aconchego com as letras já lia e com cinco anos fugi para escola com Andréia uma amiga de infância; não éramos matriculadas, mas na ingenuidade achávamos que as crianças menores já estudavam, porque a gente não? A equipe escolar nos recebeu muito bem com um olhar diferenciado. Isto me deixou três anos no primeiro ano, e fazia o dever de aula dos meus colegas, fato que anos depois aconteceu com a minha filha.
Era complicado ler na minha casa, porque meu pai acreditava que tínhamos que pilotar fogão e era proibido qualquer tipo de leitura, consegui uma lanterna e quando todas as lâmpadas se apagavam conseguia penetrar no mundo das histórias em quadrinhos. Na 5ª série quando a professora Rita pediu para comprar o livro O caso da borboleta Atíria meu pai recusou-se a comprar, mas minha mãe, ah ela era maravilhosa, comprou aquele livro e muito mais Um cadáver ouve rádio, Xisto no espaço, A serra dos dois meninos, Ubirajara, Iracema entre outros.
Na adolescência consegui ler na biblioteca da escola tantos livros que fui esquecida na escola. Li Polyana menina e Polyana moça como foi importante essa leitura!

No meu viajar dentro da leitura. Que maravilha quando começou O Sítio do Pica Pau amarelo e descobri que tinha muito mais em livro, na 5ª série conheço a professora Dilcéia uma pessoa que amei desde o 1º instante, ela lia para nós um pouco das aventuras das personagens do Monteiro Lobato, trazendo assim um pouco de luz e alegria para a minha vida.
Tudo que eu gostava era ler, uma grande alegria, inclusive romances de banca tipo Júlia, Sabrina e Bianca bem, Sidney Sheldon, Aghata Christie, Machado de Assis, Lima Barreto, Guimarães Rosa, Eça de Queiroz, Cecília Meireles e as literaturas psicografadas como Violetas na Janela e outras que foi muito importante quando meu filho Renan Leandro fez a passagem desta vida para um plano superior, o que me trouxe alegria neste momento de angústia foi saber que ele hoje está num lugar livre de qualquer dor, sendo um aliado de Deus preparando um lar especial para nós, acredito que se não fosse a leitura desse livro eu talvez não tivesse superado tão tamanha dor.

Adoro ler e leio tudo é um momento ímpar quando leio um livro e consigo viajar em outro mundo, distanciando de tudo que me envolve.

Ler e contar histórias são tão importantes que fico fascinada quando uma criança chega e pede mês livros emprestado, pois já leu todos que têm na biblioteca ficando sem opção, empresto então os livros e falo que são pequenos tesouros, guardados por toda a minha vida.
Hoje percebo que aquele contar histórias da minha avó, ajudou-me a trabalhar com as crianças com Necessidades Educativas Especiais, fico feliz ao ver a alegria deles ao ouvirem uma história, resgato a contar histórias que aprendi com a minha avó.

É saber que posso trabalhar com a transformação e a formação do sujeito, ser pessoa... E Cidadão.

Vitória16 de agosto de 2009

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Relatório – Encontro 12 – TP2 – Vila Valério – ES
Gestar II – Língua Portuguesa
Formadora: Myrcea Lourenzon Colombi
01/12/2009, às 12h – Encontro 12 (Unidades 07 e 08)

Iniciamos o encontro com a apreciação da mensagem “A Vida”, que além de ter um texto muito bonito, trás imagens muito interessantes.
Após, então, comentamos do estudo feito em casa, ao qual, pelo que foi comentado, foi muito proveitoso, pois qualquer tema relacionado a arte é muito bom. A maioria dos cursistas participou da socialização do conteúdo e, após a socialização, os professores trocaram idéias de como desenvolver o tema em sala aproveitando as propostas de atividades do Gestar.
Logo após apresentei aos cursistas os slides com algumas obras de arte, Intitulado como Klassika, e após a apreciação das imagens solicitei aos professores desenvolvessem uma sequência didática em que se evidenciassem as diversas manifestações artísticas.
Fizemos, também, uma pequena listagem de alguns exemplos de metáforas usadas no cotidiano
Por fim, os professores desenvolveram a atividade proposta pela oficina, que foi desenvolver uma série de estudos e questões sobre uma charge de Quino.
Foi uma oficina muito produtiva, com atividades que os cursistas gostaram de desenvolver. Após a realização das atividades propostas pela oficina os professores aproveitaram para concluir e ordenar algumas pendências em seus portifólios.
Relatório – Encontro 11 – TP2 – Vila Valério – ES
Gestar II – Língua Portuguesa
Formadora: Myrcea Lourenzon Colombi
24/11/2009, às 12h – Encontro 11 (Unidades 05 e 06)

Iniciamos o encontro com a apreciação da mensagem: “O Grande Professor”, onde discutimos um pouco sobre o nosso papel em sala de aula. Logo após, fizemos a retomada dos conteúdos e discutimos o que foi estudado em casa. Gramática é um tema muito abrangente e que gera muitas opiniões, mas existe uma questão em comum para todos os professores, “como trabalhá-la de uma maneira diferenciada e significativa para nossos alunos”. A partir de então, os professores cursistas também já expuseram o que acharam difícil e fácil no desenvolvimento das atividades propostas aos alunos.
Em grupo os professores desenvolveram um planejamento diferenciado de como trabalhar verbos. Em seguida, assistimos ao vídeo “O Assalto”, e como era de se esperar, os professores adoraram, e adotaram como um recurso de exemplificação do uso da gramática no nosso dia a dia, tanto na fala, como na escrita.
Por fim os professores fizeram a atividade proposta pela oficina, mas, no entanto se depararam com a expressão “cova do vento”, até então desconhecida por todos, mas que após pesquisarem, acharam de grande validez para a atividade de análise linguística.
Os cursistas avaliaram a oficina satisfatória e produtiva, pois tudo o que foi comentado, debatido e estudado é de interesse de todo professor de Língua Portuguesa.

domingo, 13 de dezembro de 2009

UM ESTALO DENTRO DO PEITO - MEMORIAL DE LEITURA - Elisa Alves


“A escrita é um mundo emaranhado
de cipós, sílabas, madressilvas, cores e palavras
- limiar de entrada de ancestral caverna
que é o útero do mundo e dele vou nascer.”
Clarice Lispector
“Está uma tarde fria. Está uma tarde feia. Chove tanto lá fora! Susana está em seu quarto. Os pingos da chuva batem na vidraça. Plic, plic, plic.”

Foi este o primeiro texto que li. Ele era o início da primeira história da cartilha que as professoras da escolinha seguiam. Nós líamos em coro, marcando o ritmo, como se cantássemos (as sílabas grifadas representam as mais fortes, na nossa cantiga). Era uma escolinha que funcionava na casa de duas moças. Uma terceira se juntava a elas na hora da aula e estava formado o trio que tinha a missão de ensinar a ler aquele grupo de crianças, cujos pais achavam que sete anos era uma idade um pouco tardia para começar. E minha mãe estava entre eles!

Mamãe não conseguiu vencer a escola. Não resistiu à palmatória, associada à necessidade de trabalhar desde criança. Assim, para ela, chegar ao fim do tempo destinado à escola era a vitória mais significativa da vida, e ela ardentemente desejava isso para mim!

Na escolinha, então, as professoras me ensinaram a ler palavras nos livros. E os colegas – ali mesmo – me ensinaram a ler a cor da pele e a discriminação. Uma das lições me deu muito prazer. A outra me fez sofrer.

De qualquer forma, foi uma bênção ter aprendido. Eu era filha única, e minha mãe saía para trabalhar em casas de família, passando dias fora e me deixando com algumas babás, que nunca duravam muito tempo. Nós morávamos no Gama (cidade periférica do Distrito Federal) e mamãe trabalhava em Brasília (Plano Piloto, para os íntimos). Eu era calada, quieta, tímida, não me dava bem com as babás que, por sua vez, não faziam nenhum esforço para me cativar. Não que brigássemos. Apenas minha mãe ficava insatisfeita com o serviço e dispensava uma após a outra.

Devido a isso, foram muitos os períodos em que fiquei sozinha, mesmo. Já matriculada no ensino fundamental de uma escola pública bem perto de nossa casa, eu ia para a aula à tarde e não gostava de televisão. Mas adorava livros! Nessa época, minha mãe comprou, de um ambulante, uma coleção de histórias clássicas infantis. Eram quatro livros pequenos, mas volumosos, guardados em uma casinha de madeira. Era lindo! E mais lindo ainda era quando, em alguma manhã ensolarada de domingo, mamãe se sentava comigo na porta da cozinha e lia para mim. Essa é uma das lembranças mais luminosas de minha vida. E não tenho certeza se a luz e o calor que ainda me são tão vivos vinham do sol incidindo sobre nós ou se do raro gesto de carinho e cuidado.

Houve um outro, uns três anos depois. Era raro que saíssemos juntas, mas naquela tarde, num dia de semana, eu estava com mamãe andando pelo Setor Comercial Sul de Brasília – mais especificamente no Conic. De repente, quando passávamos em frente a uma livraria, ela decidiu entrar e me mandou escolher um livro! É impossível explicar, em poucas palavras, o que houve comigo. Até hoje sinto o mesmo deslumbramento quando entro em qualquer livraria. Eram tantos livros ao meu redor... Parecia um castelo encantado, com peças mágicas espalhadas pelas paredes, cada qual com mundo dentro de si. E eu tinha que escolher uma! Tomada de desejo e insegurança, e com medo de aborrecer mamãe com uma possível demora, li alguns títulos e escolhi: “Manu, a menina que sabia ouvir”, de Michael Ende. Escolha acertadíssima! Uma mensagem de preservação da vida e das relações pessoais disfarçada numa intensa aventura de ficção. Tempos depois, já adulta, descobri uma outra tradução do livro – mais densa, por sinal – intitulada “Momo e o senhor do tempo”. Li também e renovei minhas impressões.

Voltando à minha infância, esses eram os meus livros. Havia outros, que eu nem sei por que tínhamos, ou de onde vieram, mas que não eram infantis. De vez em quando mamãe trazia alguma revista da casa onde trabalhava. A escola fazia empréstimos com muitas restrições, mas eu logo descobri a biblioteca pública. Foi uma riqueza! Semana após semana lá estava eu, renovando ou substituindo os empréstimos.

Assim, na solidão de minha infância, os livros me fizeram companhia, e eu passei a considerar que ler era a coisa mais gostosa do mundo! Meu coração estalava de prazer.

Isso permaneceu assim pela infância e adolescência. Um dia – eu com doze ou treze anos – mamãe entendeu que eu deveria ler mais! Retirou da prateleira A Escrava Isaura e O Coronel e o Lobisomem. Só então eu percebi que ela não sabia que eu lia, não sabia do que eu gostava. Mas eu era calada. Não discuti. Peguei os livros e tentei lê-los. Fui avançando linha após linha sem entusiasmo, e era como se não os estivesse lendo. Tive, assim, a primeira lição de que nem todo livro é legal. Anos mais tarde voltei a esses livros e os devorei. Era mais uma prova dos efeitos do tempo sobre a vida da gente.

Na escola, não me lembro de nenhum trabalho com livros no Ensino Fundamental. Mas eu nem pensava nisso, não sabia que deveria haver. Ninguém falava em leitura, e eu nem tinha com quem dividir meu entusiasmo com os livros.

Mas no Ensino Médio, fazendo o Curso Normal, uma professora nos mandou ler Jorge Amado. Não me lembro do trabalho que fizemos com o livro, mas eu me apaixonei. Foi o livro Mar Morto – uma coisa deliciosa! Depois fui procurando as outras obras dele e lendo por puro prazer.

Eu era militante da Pastoral da Juventude – um movimento da Igreja Católica, adepto da Teologia da Libertação, que defendia a “opção preferencial pelos pobres e pelos jovens”. Para mim, ser professora era um modo de fazer bem às pessoas. Era minha militância.

Enquanto estudante, eu adorava Matemática, até conhecer a Física no 1º ano do Curso Normal. Fiquei dividida. As duas eram apaixonantes, mas eu precisava escolher uma para estudar na faculdade... E então, contra todas as expectativas geradas por esse triângulo amoroso, quando terminei o Ensino Médio, prestei vestibular para o curso de Letras!

Já me explico: foi o bichinho da pesquisa que me picou. Eu queria compreender um problema que identifiquei durante o Curso Normal. É que, na nossa turma, quase ninguém gostava de escrever as redações que nossa professora exigia. Os textos valiam nota e muitas colegas chegavam, no dia da entrega, sem ter conseguido escrever nada. Um dia uma delas me pediu para fazer um texto, ali na sala, pra ela. Não me recusei e isso acabou virando hábito: eu escrevia diversas redações a cada data marcada, para várias colegas em apuros, sem perceber que eu mais as atrapalhava que ajudava – se levarmos em consideração que elas receberam seus diplomas de professoras. De qualquer forma, nossa professora é quem deveria perceber as limitações de sua estratégia de ensino de redação, mas essa é uma outra história. O fato é que, ao iniciar o tempo do estágio, pude perceber que dificuldades na escrita relacionadas ao desejo e às ideias que devem ser apresentadas não são inerentes às pessoas. As crianças das turmas em que atuei adoravam inventar histórias. Se tinham que escrever, escreviam felizes, ansiosas para mostrar o que fizeram. Mas então, por que as moças quase professoras sofriam tanto para escrever? Que incidente no percurso fez com que elas afirmassem tão categoricamente que não sabiam escrever? Em que momento da vida escolar ocorre esse estrangulamento do desejo de registrar o que se pensa? Era isso que eu queria descobrir e que me levou ao curso de Letras. Mais que descobrir uma explicação para o problema, eu queria contribuir para sua solução. Como um personagem de Isabel Allende, eu sofria de “juventude em excesso. Mas todo mundo sara disso”.

Estudar Letras foi delicioso, é claro: tive muito o que ler. Consegui levantar algumas respostas para o problema que me levou até ali, e até algumas pistas sobre a solução. E mergulhei de vez no mundo dos livros. Descobri a vertigem de Clarice Lispector e Autran Dourado. Enxerguei melhor Machado de Assis. Embriaguei-me com Lygia Fagundes Telles. Deixei-me levar por Cecília Meireles, Mário Quintana e Fernando Pessoa. Perdi-me nas veredas de João Guimarães Rosa. Encontrei novos caminhos em Graciliano Ramos.

Foi um tempo de intensa paixão!

Tão intensa que eu quase me esqueci de que havia vida além dos livros. Eu começava a preferir a companhia dos livros à das pessoas!... Mas fui salva em tempo. Cheguei bem na beira do abismo, e um amigo me puxou de volta, com meu coração estalando.

Terminei o curso de Letras, comecei a lecionar Língua Portuguesa, e continuei lendo – tentando arduamente manter o equilíbrio entre essa paixão e a vida real. A leitura interfere em minha prática pedagógica, em meu jeito de amar, de falar, de dançar, de cantar. Vejo o mundo sob a lente das letras, como se as páginas de tudo o que li e leio fossem de celofane, e se estendessem sobre meus olhos. Gostei de absolutamente quase tudo o que li. Gosto de românticos, realistas, parnasianos e futuristas. Gosto de Paulo Coelho, Paulo Leminski, Paulo Freire. Gosto tanto de Vygotsky que seria amante dele... Gosto de Fernand Braudel, Moacir Gadotti, Pedro Demo, Edgar Morin, Celso Pedro Luft, Wanderlei Geraldi, Sírio Possenti, Gustavo Bernardo, Marcos Bagno, Magda Soares, Marisa Lajolo. Gosto de Ziraldo, Pedro Bandeira, Ana Maria Machado, Ruth Rocha.

Há uma leitura específica para cada dia, para cada maneira de sentir e de estar. Assim, escolho livros de acordo com o que necessito: livros para descansar – como Paulo Coelho; livros para acordar minha alma e me ver cercada e invadida por um fogo intenso – como Clarice Lispector; livros para mergulhar numa quietude densa e úmida – como Cecília Meireles; livros para quando estou inquieta e divertida – como Paulo Leminski; livros pelo prazer do conhecimento – como Bourdieu. Qualquer que seja minha escolha, meu coração ainda estala.

Muito ao contrário do que li, aos seis anos, na minha cartilha, para mim, não há tardes frias e feias. Na verdade, se agora moro no interior, sempre considero a chuva uma bênção. E os livros me dão luz e calor. Como Odara e Bruno, meus filhos, a leitura é parte de mim, inerente. Porém, diferentemente de para com eles, não é uma relação de amor. É como a relação que tenho com minha voz, com minha cor, com meu corpo. É o que eu sou.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Caros Professores: Uma música, uma poesia!




Ouça,veja,aproveite e tente outra vez!

Abraço, Rosa Maria

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Relatórios do 9º e 10º Encontro realizados no auditório da SEME Cariacica ES‏

Prefeitura Municipal de Cariacica - SEME
Relatório de Língua Portuguesa GESTAR II Cariacica ES
O 9º encontro aconteceu no dia 09/11/09 no auditório da Secretaria Municipal de Educação (SALA DO COMEC). As atividades se iniciaram às 18:30h com os professores cursistas conforme listagem de presença anexada na SEME.

Primeiro Momento
Após a leitura do texto História de Amor, em slide, houve um
breve comentário sobre o mesmo, dando destaque a mundos (planejamentos) que construimos e usamos de muita flexibilidade quando não atingimos os objetivos previstos.
Abordamos conteúdos relacionados a Prova Brasil em que o professor precisa ter conhecimentos dos descritores para melhor atingir seus objetivos item também importante pois faz parte da prática de reflexão pautada nos propósitos do GESTAR.

Segundo Momento
Socialização das atividades do Tópico 3 feitas com os alunos das cursistas.

Terceiro Momento
O PRAZER DA LEITURA
Leitura superficial e profunda
Frases de caminhão
Leitura de frases de caminhão, observando a estrutura e pautando que existe na legislação uma lei que regula a duplicidade de sentido.
Retomada a lição de casa e a oficina.

Quarto Momento
Foram feitas reflexões sobre o aproveitamento e a receptividade de todos os envolvidos no curso.
Todos foram unânimes em afirmar a utilidade ímpar que o GESTAR tem trazido nas suas práticas cotidianas, um suporte para uma aula melhor para os alunos que apresentam um melhor desempenho no desenvolvimento das oficinas.

Quinto Momento
Avaliação Oral
Os cursistas apontaram o prazer de vislumbrar novas possibilidades e estratégias, a qualidade dos livros que compõem o GESTAR e também, o vasto material de apoio trazido pelas tutoras.
Este modelo de encontro foi citado como apropriado para as reuniões de área .
O próximo encontro será no dia 23/11/09 e os cursistas trarão as atividades não presenciais das unidades 17 e 19.


Prefeitura Municipal de Cariacica - SEME
O 10º Encontro aconteceu na sala do COMEC localizada na SEME no dia 23/11/09 às 18:30 h a listagem de frequência encontra-se arquivada na SEME.

Primeiro Momento
O encontro iniciou-se com a entrega da pauta do dia, como notamos que na reta final, os professores já cansados da longa jornada escolar, elaboramos este seguinte pensamento:
"Tentar sempre, desistir nunca, mesmo diante de toda dificuldade".
O grupo foi acolhido com a leitura de um texto encontrado numa embalagem que trata de uma lenda árabe ( texto postado no blog).Após a leitura os professores fizeram comentários sobre o texto contextualizando-o com a sala de aula, as diversas relçaoes que ali se estabelecem.

Segundo Momento
Retomamos a unidade 17 e contextualizamos o conteúdo com a prática diária e o estudo que os cursistas desenvolveram em sala. Foram feitos comentários sobre as atividades que os alunos vêm desenvolvendo.

Textos
Leitura/ Escrita - Resultados de um processo significativo.
. relações lógicas;
. opçoes estílisticas;
. várias outras estratégias de construção de sentido.

Terceiro Momento
Na unidade 18 refletimos sobre as relçãoes harmoniosas entre as partes garantem sua coerência, sua compreensão, com atenção especial para os modos como os elementos estão ligados entre si, objetivando a solidariedade entre as partes e consequentemente, a inteligibilidade.
Coerência - relação entre textos verbais e não verbais.
Identificar, construir e analisar - como se estabelece a unidade de sentido em um texto.
Nas Oficinas relacionadas a UNidade 18 executamos as seguintes atividades:
Leitura do texto introdutório da página 69.
Leitura compartilhada com pausa para discussão.
Leitura das seções relacionadas a unidade 18 do TP 5 e execução de atividade relacionada a cada seção.

Quarto Momento
Piortifólio e Projetos (andamento).
Avaliação escrita.

Língua Portuguesa: Sugestão de sites

1.Atlas Lingüístico do Brasil
http://www.alib.ufba.br/programas.asp

2.corpus representativo da língua portuguesa no século XIX.
http://www.linguaportuguesajf.com.br/

3.Persée
http://www.persee.fr/
Site público com algumas das principais revistas francesas de linguística (todos os números e edições integrais)

4.Estudos Enunciativos da Linguagem

Site do grupo desenvolvido junto à UFRGS, e coordenado pelos professores Dr. Valdir
do Nascimento Flores e Dra. Carmem Luci da Costa Silva.

http://www6.ufrgs.br/eenunciativos/
5.O Projeto Vertentes do Português Rural do Estado da Bahia
http://www.vertentes.ufba.br/
6. Journal of Portuguese Linguistics
http://www.fl.ul.pt/revistas/JPL/JPLweb.htm
7.Site de Psicolingüística
http://www.fcsh.unl.pt/psicolinguistica/index.htm

8.Instituto Brasileiro de Fluência - IBF

Site: http://www.gagueira.org.br
9.Forma Livre
Blog de Lingüística

http://www.formalivre.com/


10.Biblioteca Virtual das Ciências da Linguagem no Brasil
http://www.labeurb.unicamp.br/bvclb/pages/home/lerPagina.bv?id=1


11.CAMINHOS DA LÍNGUA
Caminhos da Língua - o portal da língua brasileira

http://www.caminhosdalingua.com/


12.SOLETRAS
http://www.filologia.org.br/soletras/

SOLETRAS é a Revista do Departamento de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, locado na Faculdade de Formação de Professores (Campus de São Gonçalo), nascida no segundo semestre do ano 2000, juntamente com a criação da Coordenação de Publicações e sua periodização é semestral, com o primeiro número a ser publicado até o final do primeiro período letivo do ano acadêmico da universidade (junho ou julho) e o segundo no final do segundo período (novembro ou dezembro).


13.Enduring VoicesSaving Disappearing Languages
Nearly 80 percent of the world's population speaks only one percent of its languages. When the last speaker of a language dies, the world loses the knowledge that was contained in that language. The goal of the Enduring Voices Project is to document endangered languages and prevent language extinction by identifying the most crucial areas where languages are endangered and embarking on expeditions to:

http://www.nationalgeographic.com/mission/enduringvoices/

14.Linguistics Calendar
http://www.ling.su.se/staff/parkvall/Calendar.html

15.SALA - Sociedade de Lingüística Aplicada
http://www.sala.org.br/site/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1

16.Linguateca
O objectivo da Linguateca, um centro de recursos -- distribuído -- para o processamento computacional da língua portuguesa
http://www.linguateca.pt/

17.Observatório da Língua Portuguesa
O primeiro passo no processo de criação da CPLP foi dado em São Luís do Maranhão, em Novembro de 1989, por ocasião da realização do primeiro encontro dos Chefes de Estado e de Governo dos países de Língua Portuguesa - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe -, a convite do Presidente brasileiro, José Sarney. Na reunião, decidiu-se criar o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), que se ocupa da promoção e difusão do idioma comum da Comunidade.
http://www.observatoriolp.com/

18.Português do Brasil

http://www.portuguesdobrasil.net/

19.ReVEL
A Revista Virtual de Estudos da Linguagem - ReVEL - é uma publicação totalmente eletrônica (acessível exclusivamente através da Internet), sem fins lucrativos, que visa à divulgação do conhecimento científico acerca dos estudos lingüísticos, especialmente do Brasil. A ReVEL é a primeira revista de Lingüística exclusivamente on-line com periodicidade regular no Brasil.

http://www.revel.inf.br/

20.Language Bar
Blog gaúcho de Lingüística

http://languagebar.blogsome.com/

21.iLoveLanguages!

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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

FORMAÇÃO EM VITÓRIA-ES – DIA 08/10/09, QUINTA-FEIRA
COMO TRABALHAR A GRAMÁTICA EM SALA DE AULA.
PROFESSORA: ROSA MARIA
FORMADORAS: HALINY, TÂNIA E SANDRINA

ATIVIDADE: Desfie textual e morfológico

Conteúdo: Morfologia – substantivo e adjetivo

Objetivos:
*Proporcionar o entendimento dos substantivos como vocábulos que nomeiam seres, lugares, objetos, sentimentos, etc.;
*proporcionar o entendimento dos adjetivos como vocábulos que caracterizam os seres.
*Trabalhar a contextualização entre o texto descritivo e as classes gramaticais;
*Promover uma maior proximidade entre os alunos através do trabalho em grupo.

Metodologia
Solicitar aos alunos que tragam sucatas para a sala de aula como: botões, pet, lã, jornal velho, etc. Em seguida, pedir para confeccionarem, usando ao máximo a criatividade, diversos tipos de brinquedos.
Depois, solicitar que dêem nomes e características aos brinquedos. Agora, de posse dessas informações, orientá-los para a elaboração do texto descritivo, fazendo uso das características criadas pelo grupo.
Para finalizar, socializar a atividade com o desfile morfológico e explicar que as criações são substantivos e as características são os adjetivos. No momento do desfile, colocar uma música bem animada para que cada grupo apresente o seu boneco.

Recursos materiais: lápis, caderno, sucatas, som, figuras, tesoura, lã, agulha, linhas, etc.

Avaliação
A avaliação é contínua, sendo analisada a participação e desenvolvimento dos alunos na atividade proposta.
GESTAR II – LÍNGUA PORTUGUESA –
FORMADORA SANDRINA WANDEL REI – MUNICÍPIO: PINHEIROS-ES.


TP 2 Análise Lingüística e Análise Literária

Relatório da unidade 6 – A frase e sua organização - 25/11/09


Iniciamos o encontro com a dinâmica “os bonecos”. Cada participante recebeu vários bonecos com diversas expressões. Ao analisarem as fisionomias, cada participante elegeu um boneco como sua cópia naquele momento da sua vida pessoal e profissional. Foi uma técnica bem interessante. Compartilhamos momentos de muita emoção. Em seguida, trabalhamos com o texto “Abraço mineiro”. Logo após, cada cursista socializou o avançando na prática que trabalhou com os seus alunos e o estudo individual da unidade 5 do TP 2. Algumas cursistas relataram que estão percebendo que os alunos estão demonstrando mais maturidade em sala de aula depois que estão trabalhando com as atividades do Gestar II. Informaram que os debates estão mais ricos e o interesse pelos conteúdos ficou mais evidente. Estes relatos são importantes para continuarmos perseverantes no desenvolvimento da nossa prática pedagógica. Para enriquecer os nossos debates, trabalhamos com o vídeo “os assaltantes”. As cursistas realizaram o trabalho em grupo da página 149 do TP 2 e apresentaram as conclusões a que chegaram. Solicitei que fizessem a produção de texto das páginas 65 e 66. Em seguida, fizeram a leitura e eu fiquei emocionada e extremamente feliz com os relatos das professoras de Língua Portuguesa do município de Pinheiros. Pude perceber que sentem um amor incondicional pela profissão e que apesar das dificuldades são guerreiras porque não desistem de conquistar os seus alunos dia após dia. Logo após a leitura dos textos, trabalhamos com as “pérolas” – professor sofre. Fizemos a leitura e debatemos sobre o texto “Língua, Educação e Liberdade” (Basile Anastassakis). Finalizamos com a entrega das lembrancinhas e avaliação do encontro.

Gestar/Pinheiros

CURSO: GESTAR II – LÍNGUA PORTUGUESA
FORMADORA: Sandrina Wandel Rei de Moraes - MUNICÍPIO: Pinheiros-ES
“Educar não é ensinar respostas, educar é ensinar pensar” Rubem Alves
Unidade 24 – TP 6 – LITERATURA PARA ADOLESCENTES DIA 04/11/09
PAUTA
 Dinâmica “Em cada lugar uma idéia.”
 Leitura do texto “A escola ensina para a vida?”
 Entrega do avançando na prática das unidades 21 e 22 TP 6;
 Socialização dos estudos individuais da unidade 23 do TP6;
 Entrega da sugestão de códigos de revisão de texto;
 Trabalho em grupo da unidade 24 do TP 6;
 Trabalho em grupo da página 222 do TP 6.(as cursistas deverão entregar o material produzido para a formadora);
 Leitura do texto “A menina do vestido azul”;
 Avaliação da oficina;
 Entrega das lembrancinhas e encerramento.

Iniciei a oficina com a dinâmica “Em cada lugar uma idéia”. As cursistas confeccionaram as partes do corpo e registraram as suas expectativas em relação ao curso. Logo após, montaram o boneco Gestar com os anseios, as dúvidas e as experiências de cada uma. Fizemos a leitura do texto “A escola ensina para a vida?” Debatemos o verdadeiro papel da educação, principalmente do professor de Língua Portuguesa. Revisamos e socializamos os estudos individuais da unidade 23.Recolhi o avançando na prática das unidades 21 e 22 do TP 6 e fizemos a socialização. As cursistas trabalharam com os alunos as atividades das páginas 91(atividade de palanejamento e escrita antecipada), da página 109 ( texto Origem do Carnaval) e da página 39 (texto publicitário para motivar a escrita). Discutimos a importância da reescrita dos textos e ofereci a sugestão de códigos de revisão textual. Trabalhamos com a unidade 24 do TP 6. As cursistas fizeram trabalhos em grupo, em seguida, apresentaram as conclusões a que chegaram sobre adolescentes, leitura e professores, a qualidade literária é primordial para adolescentes? Existem boas formas de explorar a literatura na escola?fizemos a leitura do texto “Menina do vestido azul” e comentamos como é possível mudar a realidade das nossas escolas, principalmente das nossas salas de aula. As cursistas realizaram a avaliação do encontro e cada vez que nos encontramos fico mais feliz e realizada. As avaliações mostram o carinho e a vontade de aprender mais e mais das cursistas de Pinheiros. São dedicadas e comprometidas com a aprendizagem e o sucesso dos alunos. Acredito que o Gestar II proporciona uma nova forma de ensinar a disciplina de Língua Portuguesa. Entreguei as lembrancinhas e nos despedimos.

Flores de Outono

domingo, 6 de dezembro de 2009

GestarII Encontro de avaliação

Estamos nos preparando para o encontro de avaliação do Gestar II no Espírito Santo!
Estou ansiosa por este momento porque sei que trabalhos de qualidade estão sendo realizados nas escolas pelos professores cursistas do Gestar e pelos
alunos desses professores!

Até lá,

Afetuoso Abraço!
Rosa Maria Olímpio

Formadora UnB

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Relatório – Encontro 10 – TP1 – Vila Valério – ES
Gestar II – Língua Portuguesa
Formadora: Myrcea Lourenzon Colombi
17/11/2009, às 12h – Encontro 10 (Unidades 03 e 04)

Iniciamos o encontro com a apreciação da mensagem “Procurei Tempo”, que nos mostra a importância de sempre tirarmos um tempo para as coisas que são realmente importantes para nós, a família, os amigos... Em seguida, apreciamos o vídeo “Mi ardi o oi”, que é uma canção produzida com o ritmo da música “We are the World”, de Michael Jackson, que foi um pequeno aperitivo para conversarmos sobre os temas: intertextualidade, a prática docente do uso de leitura e produção de textos e uso dos mesmos para o ensino da língua. Expomos, também, as experiências em sala de aula das atividades desenvolvidas, no qual os professores destacaram, mais uma vez, o despreparo dos nossos alunos para a prática da leitura, escrita e interpretação. Alguns professores das séries iniciais (5 e 6 Séries) sentiram dificuldades para aplicar o “Avançando na Prática”, pois seus alunos, na sua grande maioria, não tinham maturidade suficiente para bem desenvolver as atividades.
Falando de intertextualidade apresentei aos cursistas os slides com imagens da qual podíamos ver outra imagem, reforçando que a intertextualidade pode estar não somente em uma produção escrita. Após comentarmos sobre as imagens, fizemos a leitura das histórias em quadrinhos, também com exemplos de intertextualidade, vimos também, outros exemplos como o hino nacional com patrocinadores e a leitura do livro: “O Carteiro Chegou”, de Janet & Allan Ahlberg, do qual os professores adoraram. Após comentários e troca de ideias de como utilizá-lo em aula, os professores em um grupão, se organizaram para produzir uma história infantil, fazendo alusão a outras histórias, usando o mesmo recurso do livro “O carteiro chegou”. Ao qual produzimos uma história maravilhosa, e eu não pude ficar de fora, nessa eu não resisti.
Fizemos, ainda, a leitura do texto: “Carta a Um Fumante”, de Aya Ribeiro, e os cursistas produziram também um texto, na verdade usaram como base a canção: “Era uma casa...”, usando nomes de perfumes.
Por fim, produzimos a atividade proposta pela oficina, onde o grupo desenvolveu atividades de leitura e produção com base no texto “A língua”.
A oficina foi avaliada como produtiva, interessante, sugestiva, instigante, etc. pois as atividades desenvolvidas e estudadas foram desenvolvidas de maneira lúdica e criativa, sem contar na quantidade de ideias que surgiram com desde o estudo individual em casa, como em grupo.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

RELATÓRIO - Encontros 11 e 12 – Afonso Cláudio - 14 de novembro de 2009

MANHÃ – UNIDADE 21

O dia começou com relatos. Eu me queixei de não ter recebido por e-mail nenhum material referente a como trabalhar a literatura na escola e todos começaram a contar os interessantes trabalhos que já desenvolveram na escola, antes mesmo do Gestar. Parece que a comunicação eletrônica ainda é uma dificuldade. Ou a dificuldade é de registro do que se faz, uma vez que todos têm o que contar, mas talvez não tenham escrito nada. O fato é que eu fiquei entusiasmada com os relatos e pedi mais uma vez que todos fizessem o registro e me enviassem por e-mail – ou, se isso não fosse possível, levasse pra mim no próximo encontro.
Começamos em seguida a rever as características do texto dissertativo. Fizemos um exercício de identificação de pressupostos e um outro relacionado à macroestrutura de um texto dissertativo. O grupo gostou muito dessa abordagem e solicitou que eu enviasse o material para que eles pudessem também utilizar, tanto como professores, como produtores de textos.
O passo seguinte foi acompanhar a Unidade 21, discutindo as estratégias de argumentação apresentadas. Foi muito discutida, também a diferença entre persuasão e convencimento.


TARDE – UNIDADE 21 e 22

Quando voltamos do almoço, discutimos alguns dos defeitos de argumentação apresentados na Unidade 21. Depois, seguindo sugestão feita em avaliações anteriores, fizemos uma dinâmica para espantar o sono de depois do almoço: espalhei peças de quebra-cabeças no chão, todas misturadas, para que cada um pegasse duas ou três, e depois identificasse o lugar de suas peças. No total foram montadas sete figuras e os cursistas dividiram-se em torno delas. O próximo passo foi virar as figuras com o verso para cima. Lá havia uma parte de um texto. O desafio agora era ler o texto partido e depois conversar com os demais grupos para identificar as partes complementares. Eram dois textos. Um partido em três partes, outro partido em quatro. Com os textos já inteiros e em ordem, a turma ficou dividida em dois, e cada grupo contou ao outro o assunto central de seu texto, para em seguida, abrirmos uma discussão sobre as ideias. Um dos textos era uma resenha de André Gazola sobre o livro de Marisa Lajolo: Literatura: leitores e leitura. O outro texto era um artigo de Renata Junqueira de Souza intitulado “A importância da leitura e literatura infantil na formação das crianças e jovens”.
Ninguém mais com sono, iniciamos uma reflexão sobre o planejamento da escrita, realizando a atividade 1 da Unidade 22. Foi um momento de muita participação, depois do qual passamos a escrever. Eu propus que fizéssemos o item 2 da atividade 3 (Escreva um texto sobre a sua história como educador(a), como surgiu a motivação, como se sentiu e argumentou, justificando as suas escolhas. Vamos, porém, antes de escrever o texto em si, planejá-lo), e que o apresentássemos em dois textos: um contando a história pedida pelo enunciado; outro, contando como esse texto foi escrito. Nossa meta é publicar todos esses textos em nosso blog.
Os ritmos, é claro, são muito diferentes. Assim, quando começamos a avaliação do encontro, às 16:15h, poucos já haviam terminado a atividade.
Eu, de minha parte, considerei o encontro muito lento. O grupo, ao contrário, achou que foi o melhor encontro.
Acho que devo rever minha noção de ritmo.

Elisa Alves



TEXTOS COMPLEMENTARES:

A importância da leitura e literatura infantil na formação das crianças e jovens
Renata Junqueira de Souza

A infância é o melhor momento para o indivíduo iniciar sua emancipação mediante a função liberatória da palavra. É entre os oito e treze anos de idade que as crianças revelam maior interesse pela leitura. O estudioso Richard Bamberger reforça a ideia de que é importante habituar a criança às palavras. "Se conseguirmos fazer com que a criança tenha sistematicamente uma experiência positiva com a linguagem, estaremos promovendo o seu desenvolvimento como ser humano."
Inúmeros pesquisadores têm-se empenhado em mostrar aos pais e professores a importância de se incluir o livro no dia-a-dia da criança. Bamberger afirma que, comparada ao cinema, ao rádio e à televisão, a leitura tem vantagens únicas. Em vez de precisar escolher entre uma variedade limitada, posta à sua disposição por cortesia do patrocinador comercial, ou entre os filmes disponíveis no momento, o leitor pode escolher entre os melhores escritos do presente e do passado. Lê onde e quando mais lhe convém, no ritmo que mais lhe agrada, podendo retardar ou apressar a leitura; interrompê-la, reler ou parar para refletir, a seu bel-prazer. Lê o que, quando, onde e como bem entender.
Essa flexibilidade garante o interesse continuo pela leitura, tanto em relação à educação quanto ao entretenimento.
A professora e autora Maria helena Martins chama a atenção para um contato sensorial com o objeto livro, que, segundo ela, revela "um prazer singular" na criança. Na leitura, por meio dos sentidos, a criança é atraída pela curiosidade, pelo formato, pelo manuseio fácil e pelas possibilidades emotivas que o livro pode conter. A autora comenta que “esse jogo com o universo escondido no livro “pode estimular no pequeno leitor a descoberta e o aprimoramento da linguagem, desenvolvendo sua capacidade de comunicação com o mundo”“.
Esses primeiros contatos despertam na criança o desejo de concretizar o ato de ler o texto escrito, facilitando o processo de alfabetização. A possibilidade de que essa experiência sensorial ocorra será maior quanto mais frequente for o contato da criança com o livro.
Às crianças brasileiras, o acesso ao livro é dificultado por uma conjunção de fatores sociais, econômicos e políticos. São raras as bibliotecas escolares. As existentes não dispõem de um acervo adequado, e/ou de profissionais aptos a orientar o público infantil no sentido de um contato agradável e propício com os livros.
Mais raras ainda são as bibliotecas domésticas. Os pais, quando se interessam em comprar livros, muitas vezes os escolhem pela capa por falta de uma orientação direcionada às preferências das crianças.
É de extrema importância para os pais e educadores discutir o que é leitura, a importância do livro no processo de formação do leitor, bem como, o ensino da literatura infantil como processo para o desenvolvimento do leitor crítico.
Podemos tomar as orientações da professora Regina Zilberman, estudiosa em literatura infanto-juvenil e leitura, como forma de motivarmos as crianças e os jovens ao hábito de ler: abordar as relações entre a literatura e ensino legitimando a função da leitura, sugerindo livros, assim como atividades didáticas, a fim de alcançar o uso da obra literária em sala de aula e nas suas casas com objetivos cognitivos, e não apenas pedagógicos; considerar o confronto entre a criação para crianças e o livro didático, tornando o último passível de uma visão crítica e o primeiro ponto de partida para a consideração dos interesses do leitor e da importância da leitura como desencadeadora de uma postura reflexiva perante a realidade.
Assim, com relação à leitura e à literatura infantil, pais e professores devem explorar a função educacional do texto literário: ficção e poesia por meio da seleção e análise de livros infantis; do desenvolvimento do lúdico e do domínio da linguagem; do trabalho com projetos de literatura infantil em sala de aula, utilizando as histórias infantis como caminho para o ensino multidisciplinar.
Estratégias para o uso de textos infantis no aprendizado da leitura, interpretação e produção de textos também são exploradas com o intuito final de promover um ensino de qualidade, prazeroso e direcionado à criança. Somente desta forma, transformaremos o Brasil num país de leitores.
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Literatura: leitores & leitura, de Marisa Lajolo
Resenha de André Gazola



Eu já tinha decido antes de terminar o semestre: nas férias, eu ia dar um tempo nas leituras, e ler um pouco mais.
Acabei agora pouco de ler esse simpático livrinho da famosa professora da UNICAMP. A surpresa é que ele conseguiu fazer uma confusão tremenda com o conceito que eu tinha de literatura.
Explico. Através de 15 capítulos de conversa direta com o leitor e análise de alguns períodos históricos, juntamente com as diversas formas de literatura que os acompanharam, Marisa questiona aquela visão erudita do conceito de literatura: apenas livros; apenas clássicos; apenas autores “bons”.
Ela pretende, através da amostra de exemplos literários de 25 séculos, desde Platão e Aristóteles até o mais novo best-seller, mostrar que a literatura não pode ser definida, ou melhor, pode sim, mas somente pelo próprio leitor, individualmente e naquele instante da sua vida.
Com uma linguagem muito leve, beirando, muitas vezes, um papo entre adolescentes, a autora utiliza trechos de músicas, poemas, obras, pichações, cantigas e histórias populares conhecidas para ilustrar que literatura é tudo isso, não apenas aquilo que os círculos acadêmicos preconceituosos vivem nos dizendo.
Ser ou não ser literatura é assunto que se altera com o tempo e desperta paixões.
Até um conceito que é ensinado nas escolas e inclusive na faculdade é desmentido pela autora:
Não é o uso da linguagem que define sua literariedade, mas a relação que as palavras estabelecem com o contexto, com a situação de leitura.
Não se pode falar em distinções rígidas e pré-estabelecidas entre linguagem literária, e, por exemplo, linguagem coloquial. O que torna qualquer linguagem literária ou não, é a situação de uso.
Qualquer um que já tenha estudado um pouco de literatura sabe que aí está uma revolução considerável nas bases da teoria literária ensinada nas escolas.
Além de tudo isso, há uma análise da literatura do séc. XX e XXI, coisa que eu não tinha visto em livros ainda. Basicamente, sobre a produção literária atual, diz-se o seguinte:
* ocorreu uma globalização da literatura. Nunca fomos tão traduzidos e nunca traduzimos tanto (lembre-se, novelas de TV também são consideradas literatura);
* devido ao aumento do mercado, há literatura de todas as identidades: infantil, de autoria feminina, negra, indígena, homossexual (elas sempre existiram, mas agora adquiriram seu espaço, foram desmarginalizadas);
* assim, há a expansão e democratização do conceito de literatura;
* a literatura do séc. XXI é marcada pela metalinguagem e pela intertextualidade.
Pra terminar, uma frase de Fernando Pessoa que ilustra muito bem a ideia da obra, de que não apenas livros devem ser considerados literatura:
“Livros nada mais são do que papéis pintados com tinta.”

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A MORTE PAGA MAIS
Rubem Alves

Quem teve o nariz treinado para sentir o cheiro das coisas sagradas espanta-se sempre com aquele indisfarçável odor de coisas religiosas que se desprende dos gestos e das falas dos festivais da Ciência. Ali há lugar para os mais variados gostos litúrgicos, desde os sacerdotes do saber, em seus momentos mais solenes, vestes talares multicoloridas, até as "ordens mendicantes", avessas às cores e perfumes oficiais, e identificadas por roupas e gestos diferentes, em ambos os casos, símbolos de realidades invisíveis aos olhos dos não iniciados. Os rituais esotéricos são sucedidos pelas celebrações da "religiosidade popular", em que o corpo sacerdotal, Teólogos, Profetas e Ordens de todos os tipos se misturam com os neófitos, na mesma explosão de entusiasmo científico, atmosfera de romaria, em que o que está em jogo não é a verdade fria das galáxias ou células, mas um certo fervor que faz com que todos se reconheçam como membros de uma mesma procissão de saber...
São as celebrações rituais dos mitos inaugurais da Ciência. E se a coisa tem o jeito de religião é porque a Ciência começou como uma nova religião, em que uma classe sacerdotal de roupa preta foi derrotada por uma classe sacerdotal de roupa branca. O que se pretendia não era o fim da religião, mas uma religião melhor; não o ateísmo, mas uma contemplação mais direta dos mistérios da divindade.
Parece, por exemplo, que este foi o caso de Copérnico, que colocou o Sol no centro dos planetas, em lugar da Terra, não movido pelo peso das evidências empíricas, mas comovido pelos argumentos da estética e da elegância geométricas: Deus, geômetra/esteta, não poderia ter feito um sistema de astros tão feio e de pé quebrado como aquele de Ptolomeu. Com o Sol no centro fica tudo mais bonito e é até mais fácil louvar a Deus, pois a alma fica mais leve e feliz quando o Universo fica mais fácil de se compreender. Coisa semelhante aconteceu com Kepler, que se pôs a procurar as leis que regiam o movimento dos planetas. Não é que ele se interessasse por precisões matemáticas. Acontece que ele desejava ouvir as melodias que o Todo-Poderoso, músico dos músicos, havia colocado no espaço. E ele sabia que pela mediação dos números era possível chegar até os sons. E até deu o nome de Harmonia dos Mundos ao seu livro, o que o coloca mais na biblioteca dos músicos que na dos físicos, pois harmonia tem a ver com notas e acordes...
A Ciência começou como coisa alegre e bonita. Daí o deslumbramento que produziu. Mas esses primeiros cientistas eram precursores modestos de prodígios ainda por vir. Nem de longe imaginavam que as coisas que diziam sobre os céus poderiam, um dia, fazer diferença sobre a terra...
Mas logo a alegria aumentou. Ao prazer da contemplação se juntou a volúpia da magia. O jeito novo de ver virou jeito novo de fazer. Das equações matemáticas começaram a saltar máquinas. E se percebeu que a Ciência fazia bem não apenas para a cabeça mas também para o corpo. Uma máquina é um braço que deixa descansar o braço. Sobraria mais tempo para o prazer. E a Ciência apareceu como o deus encarnado: poder para transformar os desejos em realidade. Os céus baixam à terra. O paraíso sai do passado e se coloca no futuro. "Não importa o que a princípio tenha sido", dizia Priestley. "O fim será glorioso e paradisíaco... Os homens prolongarão os dias de suas vidas e ficarão cada vez mais felizes..." Completa-se a transformação teológica. A Salvação é possível. Os homens podem ser felizes. Não pelo poder dos Sacramentos mas pela expansão do saber. E aquilo que a religião velha colocava depois da morte, a Ciência trouxe para a vida, só que um pouquinho para o futuro... Nas palavras de Diderot, "a posteridade é, para o homem de saber, aquilo que o outro mundo é para o homem religioso".
E todos ergueram suas taças ao futuro. Não, não se converteram à Ciência apenas para terem um novo método de conhecimento e investigação. É que acreditavam que a investigação e o conhecimento vinham grávidos de esperanças. E era por este filho prometido que se faziam brindes: o progresso da Ciência traria consigo a expansão da felicidade. E da bondade, é claro. O corpo tinha razões para se alegrar. Finalmente a dor seria conquistada e o prazer reinaria, supremo.
E é esta esperança que é ainda celebrada nos festivais da Ciência. Só que alguma coisa aconteceu. As esperanças abortaram, os deuses morreram. Ficariam os rituais, cascas de uma vida que se foi, como aquelas que as cigarras deixam, grudadas nos troncos das árvores. As liturgias preservam os risos do nascimento. E não nos damos conta de que a criança envelheceu antes do tempo e morreu. Já se sente o cheiro da decomposição. É hora de sepultamento... A promessa virou maldição, como no mito da queda; de alegria para o corpo, a Ciência transformou-se em sua tristeza. Ela é, hoje, o maior perigo para a sobrevivência da humanidade. É que a morte paga mais... Se juntarmos tudo de horrível que culturas pré-científicas produziram, nada se compara, em terror, à possibilidade de aniquilação da vida, como resultado do desenvolvimento científico da tecnologia da morte.
Chamarão minha atenção para os benefícios laterais. O que me faz lembrar o condenado à guilhotina que, perante a lâmina bela e eficaz, amaldiçoou aquele que a havia construído. Mas o carrasco o chamou de volta à razão, lembrando-lhe que suas lâminas de barbear haviam sido feitas com o mesmo aço. Reconheço os benefícios. Mas eles não me consolam, perante a lâmina. Preferiria que minha barba tivesse crescido... Ou alegarão que tudo não passa de um grande equívoco, culpa dos políticos e militares, gente de fora da Ciência. Mas a Ciência se entregou, meretriz sorridente, e no seu ventre/laboratório cresceram as armas bacteriológicas, químicas e atômicas...
Existe outra possibilidade que quase ninguém se atreve a mencionar. De que haja um erro na própria Ciência. De que ela não seja aquilo que dela sempre se disse. De que ela não seja aliada do corpo e do prazer não por acidente ou equívoco, mas por destino...
Exorcizar os fantasmas da morte e do sofrimento é o que se faz, sem cessar, nas liturgias da Ciência. Mas tudo continua na mesma. Continuamos a recitar a mesma Teologia... Conhecimento novo é sempre bom. Que ele se multiplique. Que as pesquisas avancem. Como se o problema estivesse em nossa falta de conhecimento: com um pouquinho mais as coisas se resolverão. Mas é bem provável que a verdade seja o oposto. Nossos problemas não decorrem de nossa falta de conhecimento mas antes do seu excesso.
Mas esta é a heresia das heresias. Afirmar tal coisa é entristecer as liturgias. Acontece que somos por demais devotos. Como o eram os sacerdotes de vestes pretas, quando seu fim se aproximava.


In: "Estórias de quem gosta de ensinar" - Coleção Questões da Nossa Época -
São Paulo: Cortez Editora, 1994, pp. 27 - 30


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SEREIA OU BALEIA? (Texto que circulou pela Internet, no verão de 2007) "Ontem vi um outdoor da Runner, com a foto de uma moça escultural de biquíni e a frase: ‘Neste verão, qual você quer ser? Sereia ou Baleia?’ Respondo: Baleias sempre estão cercadas de amigos. Baleias têm vida sexual ativa, engravidam e têm filhotinhos fofos. Baleias amamentam. Baleias nadam por aí, cortando os mares e conhecendo lugares legais como as banquisas de gelo da Antártida e os recifes de coral da Polinésia. Baleias têm amigos golfinhos. Baleias comem camarão à beça. Baleias esguicham água e brincam muito. Baleias cantam muito bem e têm até CDs gravados. Baleias são enormes e quase não têm predadores naturais. Baleias são bem resolvidas, lindas e amadas. Sereias não existem. Se existissem viveriam em crise existencial: sou um peixe ou um ser humano? Não têm filhos, pois matam os homens que se encantam com sua beleza. São lindas mas tristes e sempre solitárias... Runner querida, prefiro ser baleia!"

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“As pessoas se unem por mil razões, até por amor. Raramente o fazem, porém, pela felicidade. Sendo amor não precisa ser feliz, pensam. Sendo profundo não precisa ser bom para ambos, supõem. Repito: amor não é bom quando é muito bom. Só é bom quando é mútuo bom”.
Arthur da Távola

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