terça-feira, 1 de dezembro de 2009

RELATÓRIO - Encontros 11 e 12 – Afonso Cláudio - 14 de novembro de 2009

MANHÃ – UNIDADE 21

O dia começou com relatos. Eu me queixei de não ter recebido por e-mail nenhum material referente a como trabalhar a literatura na escola e todos começaram a contar os interessantes trabalhos que já desenvolveram na escola, antes mesmo do Gestar. Parece que a comunicação eletrônica ainda é uma dificuldade. Ou a dificuldade é de registro do que se faz, uma vez que todos têm o que contar, mas talvez não tenham escrito nada. O fato é que eu fiquei entusiasmada com os relatos e pedi mais uma vez que todos fizessem o registro e me enviassem por e-mail – ou, se isso não fosse possível, levasse pra mim no próximo encontro.
Começamos em seguida a rever as características do texto dissertativo. Fizemos um exercício de identificação de pressupostos e um outro relacionado à macroestrutura de um texto dissertativo. O grupo gostou muito dessa abordagem e solicitou que eu enviasse o material para que eles pudessem também utilizar, tanto como professores, como produtores de textos.
O passo seguinte foi acompanhar a Unidade 21, discutindo as estratégias de argumentação apresentadas. Foi muito discutida, também a diferença entre persuasão e convencimento.


TARDE – UNIDADE 21 e 22

Quando voltamos do almoço, discutimos alguns dos defeitos de argumentação apresentados na Unidade 21. Depois, seguindo sugestão feita em avaliações anteriores, fizemos uma dinâmica para espantar o sono de depois do almoço: espalhei peças de quebra-cabeças no chão, todas misturadas, para que cada um pegasse duas ou três, e depois identificasse o lugar de suas peças. No total foram montadas sete figuras e os cursistas dividiram-se em torno delas. O próximo passo foi virar as figuras com o verso para cima. Lá havia uma parte de um texto. O desafio agora era ler o texto partido e depois conversar com os demais grupos para identificar as partes complementares. Eram dois textos. Um partido em três partes, outro partido em quatro. Com os textos já inteiros e em ordem, a turma ficou dividida em dois, e cada grupo contou ao outro o assunto central de seu texto, para em seguida, abrirmos uma discussão sobre as ideias. Um dos textos era uma resenha de André Gazola sobre o livro de Marisa Lajolo: Literatura: leitores e leitura. O outro texto era um artigo de Renata Junqueira de Souza intitulado “A importância da leitura e literatura infantil na formação das crianças e jovens”.
Ninguém mais com sono, iniciamos uma reflexão sobre o planejamento da escrita, realizando a atividade 1 da Unidade 22. Foi um momento de muita participação, depois do qual passamos a escrever. Eu propus que fizéssemos o item 2 da atividade 3 (Escreva um texto sobre a sua história como educador(a), como surgiu a motivação, como se sentiu e argumentou, justificando as suas escolhas. Vamos, porém, antes de escrever o texto em si, planejá-lo), e que o apresentássemos em dois textos: um contando a história pedida pelo enunciado; outro, contando como esse texto foi escrito. Nossa meta é publicar todos esses textos em nosso blog.
Os ritmos, é claro, são muito diferentes. Assim, quando começamos a avaliação do encontro, às 16:15h, poucos já haviam terminado a atividade.
Eu, de minha parte, considerei o encontro muito lento. O grupo, ao contrário, achou que foi o melhor encontro.
Acho que devo rever minha noção de ritmo.

Elisa Alves



TEXTOS COMPLEMENTARES:

A importância da leitura e literatura infantil na formação das crianças e jovens
Renata Junqueira de Souza

A infância é o melhor momento para o indivíduo iniciar sua emancipação mediante a função liberatória da palavra. É entre os oito e treze anos de idade que as crianças revelam maior interesse pela leitura. O estudioso Richard Bamberger reforça a ideia de que é importante habituar a criança às palavras. "Se conseguirmos fazer com que a criança tenha sistematicamente uma experiência positiva com a linguagem, estaremos promovendo o seu desenvolvimento como ser humano."
Inúmeros pesquisadores têm-se empenhado em mostrar aos pais e professores a importância de se incluir o livro no dia-a-dia da criança. Bamberger afirma que, comparada ao cinema, ao rádio e à televisão, a leitura tem vantagens únicas. Em vez de precisar escolher entre uma variedade limitada, posta à sua disposição por cortesia do patrocinador comercial, ou entre os filmes disponíveis no momento, o leitor pode escolher entre os melhores escritos do presente e do passado. Lê onde e quando mais lhe convém, no ritmo que mais lhe agrada, podendo retardar ou apressar a leitura; interrompê-la, reler ou parar para refletir, a seu bel-prazer. Lê o que, quando, onde e como bem entender.
Essa flexibilidade garante o interesse continuo pela leitura, tanto em relação à educação quanto ao entretenimento.
A professora e autora Maria helena Martins chama a atenção para um contato sensorial com o objeto livro, que, segundo ela, revela "um prazer singular" na criança. Na leitura, por meio dos sentidos, a criança é atraída pela curiosidade, pelo formato, pelo manuseio fácil e pelas possibilidades emotivas que o livro pode conter. A autora comenta que “esse jogo com o universo escondido no livro “pode estimular no pequeno leitor a descoberta e o aprimoramento da linguagem, desenvolvendo sua capacidade de comunicação com o mundo”“.
Esses primeiros contatos despertam na criança o desejo de concretizar o ato de ler o texto escrito, facilitando o processo de alfabetização. A possibilidade de que essa experiência sensorial ocorra será maior quanto mais frequente for o contato da criança com o livro.
Às crianças brasileiras, o acesso ao livro é dificultado por uma conjunção de fatores sociais, econômicos e políticos. São raras as bibliotecas escolares. As existentes não dispõem de um acervo adequado, e/ou de profissionais aptos a orientar o público infantil no sentido de um contato agradável e propício com os livros.
Mais raras ainda são as bibliotecas domésticas. Os pais, quando se interessam em comprar livros, muitas vezes os escolhem pela capa por falta de uma orientação direcionada às preferências das crianças.
É de extrema importância para os pais e educadores discutir o que é leitura, a importância do livro no processo de formação do leitor, bem como, o ensino da literatura infantil como processo para o desenvolvimento do leitor crítico.
Podemos tomar as orientações da professora Regina Zilberman, estudiosa em literatura infanto-juvenil e leitura, como forma de motivarmos as crianças e os jovens ao hábito de ler: abordar as relações entre a literatura e ensino legitimando a função da leitura, sugerindo livros, assim como atividades didáticas, a fim de alcançar o uso da obra literária em sala de aula e nas suas casas com objetivos cognitivos, e não apenas pedagógicos; considerar o confronto entre a criação para crianças e o livro didático, tornando o último passível de uma visão crítica e o primeiro ponto de partida para a consideração dos interesses do leitor e da importância da leitura como desencadeadora de uma postura reflexiva perante a realidade.
Assim, com relação à leitura e à literatura infantil, pais e professores devem explorar a função educacional do texto literário: ficção e poesia por meio da seleção e análise de livros infantis; do desenvolvimento do lúdico e do domínio da linguagem; do trabalho com projetos de literatura infantil em sala de aula, utilizando as histórias infantis como caminho para o ensino multidisciplinar.
Estratégias para o uso de textos infantis no aprendizado da leitura, interpretação e produção de textos também são exploradas com o intuito final de promover um ensino de qualidade, prazeroso e direcionado à criança. Somente desta forma, transformaremos o Brasil num país de leitores.
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Literatura: leitores & leitura, de Marisa Lajolo
Resenha de André Gazola



Eu já tinha decido antes de terminar o semestre: nas férias, eu ia dar um tempo nas leituras, e ler um pouco mais.
Acabei agora pouco de ler esse simpático livrinho da famosa professora da UNICAMP. A surpresa é que ele conseguiu fazer uma confusão tremenda com o conceito que eu tinha de literatura.
Explico. Através de 15 capítulos de conversa direta com o leitor e análise de alguns períodos históricos, juntamente com as diversas formas de literatura que os acompanharam, Marisa questiona aquela visão erudita do conceito de literatura: apenas livros; apenas clássicos; apenas autores “bons”.
Ela pretende, através da amostra de exemplos literários de 25 séculos, desde Platão e Aristóteles até o mais novo best-seller, mostrar que a literatura não pode ser definida, ou melhor, pode sim, mas somente pelo próprio leitor, individualmente e naquele instante da sua vida.
Com uma linguagem muito leve, beirando, muitas vezes, um papo entre adolescentes, a autora utiliza trechos de músicas, poemas, obras, pichações, cantigas e histórias populares conhecidas para ilustrar que literatura é tudo isso, não apenas aquilo que os círculos acadêmicos preconceituosos vivem nos dizendo.
Ser ou não ser literatura é assunto que se altera com o tempo e desperta paixões.
Até um conceito que é ensinado nas escolas e inclusive na faculdade é desmentido pela autora:
Não é o uso da linguagem que define sua literariedade, mas a relação que as palavras estabelecem com o contexto, com a situação de leitura.
Não se pode falar em distinções rígidas e pré-estabelecidas entre linguagem literária, e, por exemplo, linguagem coloquial. O que torna qualquer linguagem literária ou não, é a situação de uso.
Qualquer um que já tenha estudado um pouco de literatura sabe que aí está uma revolução considerável nas bases da teoria literária ensinada nas escolas.
Além de tudo isso, há uma análise da literatura do séc. XX e XXI, coisa que eu não tinha visto em livros ainda. Basicamente, sobre a produção literária atual, diz-se o seguinte:
* ocorreu uma globalização da literatura. Nunca fomos tão traduzidos e nunca traduzimos tanto (lembre-se, novelas de TV também são consideradas literatura);
* devido ao aumento do mercado, há literatura de todas as identidades: infantil, de autoria feminina, negra, indígena, homossexual (elas sempre existiram, mas agora adquiriram seu espaço, foram desmarginalizadas);
* assim, há a expansão e democratização do conceito de literatura;
* a literatura do séc. XXI é marcada pela metalinguagem e pela intertextualidade.
Pra terminar, uma frase de Fernando Pessoa que ilustra muito bem a ideia da obra, de que não apenas livros devem ser considerados literatura:
“Livros nada mais são do que papéis pintados com tinta.”

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A MORTE PAGA MAIS
Rubem Alves

Quem teve o nariz treinado para sentir o cheiro das coisas sagradas espanta-se sempre com aquele indisfarçável odor de coisas religiosas que se desprende dos gestos e das falas dos festivais da Ciência. Ali há lugar para os mais variados gostos litúrgicos, desde os sacerdotes do saber, em seus momentos mais solenes, vestes talares multicoloridas, até as "ordens mendicantes", avessas às cores e perfumes oficiais, e identificadas por roupas e gestos diferentes, em ambos os casos, símbolos de realidades invisíveis aos olhos dos não iniciados. Os rituais esotéricos são sucedidos pelas celebrações da "religiosidade popular", em que o corpo sacerdotal, Teólogos, Profetas e Ordens de todos os tipos se misturam com os neófitos, na mesma explosão de entusiasmo científico, atmosfera de romaria, em que o que está em jogo não é a verdade fria das galáxias ou células, mas um certo fervor que faz com que todos se reconheçam como membros de uma mesma procissão de saber...
São as celebrações rituais dos mitos inaugurais da Ciência. E se a coisa tem o jeito de religião é porque a Ciência começou como uma nova religião, em que uma classe sacerdotal de roupa preta foi derrotada por uma classe sacerdotal de roupa branca. O que se pretendia não era o fim da religião, mas uma religião melhor; não o ateísmo, mas uma contemplação mais direta dos mistérios da divindade.
Parece, por exemplo, que este foi o caso de Copérnico, que colocou o Sol no centro dos planetas, em lugar da Terra, não movido pelo peso das evidências empíricas, mas comovido pelos argumentos da estética e da elegância geométricas: Deus, geômetra/esteta, não poderia ter feito um sistema de astros tão feio e de pé quebrado como aquele de Ptolomeu. Com o Sol no centro fica tudo mais bonito e é até mais fácil louvar a Deus, pois a alma fica mais leve e feliz quando o Universo fica mais fácil de se compreender. Coisa semelhante aconteceu com Kepler, que se pôs a procurar as leis que regiam o movimento dos planetas. Não é que ele se interessasse por precisões matemáticas. Acontece que ele desejava ouvir as melodias que o Todo-Poderoso, músico dos músicos, havia colocado no espaço. E ele sabia que pela mediação dos números era possível chegar até os sons. E até deu o nome de Harmonia dos Mundos ao seu livro, o que o coloca mais na biblioteca dos músicos que na dos físicos, pois harmonia tem a ver com notas e acordes...
A Ciência começou como coisa alegre e bonita. Daí o deslumbramento que produziu. Mas esses primeiros cientistas eram precursores modestos de prodígios ainda por vir. Nem de longe imaginavam que as coisas que diziam sobre os céus poderiam, um dia, fazer diferença sobre a terra...
Mas logo a alegria aumentou. Ao prazer da contemplação se juntou a volúpia da magia. O jeito novo de ver virou jeito novo de fazer. Das equações matemáticas começaram a saltar máquinas. E se percebeu que a Ciência fazia bem não apenas para a cabeça mas também para o corpo. Uma máquina é um braço que deixa descansar o braço. Sobraria mais tempo para o prazer. E a Ciência apareceu como o deus encarnado: poder para transformar os desejos em realidade. Os céus baixam à terra. O paraíso sai do passado e se coloca no futuro. "Não importa o que a princípio tenha sido", dizia Priestley. "O fim será glorioso e paradisíaco... Os homens prolongarão os dias de suas vidas e ficarão cada vez mais felizes..." Completa-se a transformação teológica. A Salvação é possível. Os homens podem ser felizes. Não pelo poder dos Sacramentos mas pela expansão do saber. E aquilo que a religião velha colocava depois da morte, a Ciência trouxe para a vida, só que um pouquinho para o futuro... Nas palavras de Diderot, "a posteridade é, para o homem de saber, aquilo que o outro mundo é para o homem religioso".
E todos ergueram suas taças ao futuro. Não, não se converteram à Ciência apenas para terem um novo método de conhecimento e investigação. É que acreditavam que a investigação e o conhecimento vinham grávidos de esperanças. E era por este filho prometido que se faziam brindes: o progresso da Ciência traria consigo a expansão da felicidade. E da bondade, é claro. O corpo tinha razões para se alegrar. Finalmente a dor seria conquistada e o prazer reinaria, supremo.
E é esta esperança que é ainda celebrada nos festivais da Ciência. Só que alguma coisa aconteceu. As esperanças abortaram, os deuses morreram. Ficariam os rituais, cascas de uma vida que se foi, como aquelas que as cigarras deixam, grudadas nos troncos das árvores. As liturgias preservam os risos do nascimento. E não nos damos conta de que a criança envelheceu antes do tempo e morreu. Já se sente o cheiro da decomposição. É hora de sepultamento... A promessa virou maldição, como no mito da queda; de alegria para o corpo, a Ciência transformou-se em sua tristeza. Ela é, hoje, o maior perigo para a sobrevivência da humanidade. É que a morte paga mais... Se juntarmos tudo de horrível que culturas pré-científicas produziram, nada se compara, em terror, à possibilidade de aniquilação da vida, como resultado do desenvolvimento científico da tecnologia da morte.
Chamarão minha atenção para os benefícios laterais. O que me faz lembrar o condenado à guilhotina que, perante a lâmina bela e eficaz, amaldiçoou aquele que a havia construído. Mas o carrasco o chamou de volta à razão, lembrando-lhe que suas lâminas de barbear haviam sido feitas com o mesmo aço. Reconheço os benefícios. Mas eles não me consolam, perante a lâmina. Preferiria que minha barba tivesse crescido... Ou alegarão que tudo não passa de um grande equívoco, culpa dos políticos e militares, gente de fora da Ciência. Mas a Ciência se entregou, meretriz sorridente, e no seu ventre/laboratório cresceram as armas bacteriológicas, químicas e atômicas...
Existe outra possibilidade que quase ninguém se atreve a mencionar. De que haja um erro na própria Ciência. De que ela não seja aquilo que dela sempre se disse. De que ela não seja aliada do corpo e do prazer não por acidente ou equívoco, mas por destino...
Exorcizar os fantasmas da morte e do sofrimento é o que se faz, sem cessar, nas liturgias da Ciência. Mas tudo continua na mesma. Continuamos a recitar a mesma Teologia... Conhecimento novo é sempre bom. Que ele se multiplique. Que as pesquisas avancem. Como se o problema estivesse em nossa falta de conhecimento: com um pouquinho mais as coisas se resolverão. Mas é bem provável que a verdade seja o oposto. Nossos problemas não decorrem de nossa falta de conhecimento mas antes do seu excesso.
Mas esta é a heresia das heresias. Afirmar tal coisa é entristecer as liturgias. Acontece que somos por demais devotos. Como o eram os sacerdotes de vestes pretas, quando seu fim se aproximava.


In: "Estórias de quem gosta de ensinar" - Coleção Questões da Nossa Época -
São Paulo: Cortez Editora, 1994, pp. 27 - 30


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SEREIA OU BALEIA? (Texto que circulou pela Internet, no verão de 2007) "Ontem vi um outdoor da Runner, com a foto de uma moça escultural de biquíni e a frase: ‘Neste verão, qual você quer ser? Sereia ou Baleia?’ Respondo: Baleias sempre estão cercadas de amigos. Baleias têm vida sexual ativa, engravidam e têm filhotinhos fofos. Baleias amamentam. Baleias nadam por aí, cortando os mares e conhecendo lugares legais como as banquisas de gelo da Antártida e os recifes de coral da Polinésia. Baleias têm amigos golfinhos. Baleias comem camarão à beça. Baleias esguicham água e brincam muito. Baleias cantam muito bem e têm até CDs gravados. Baleias são enormes e quase não têm predadores naturais. Baleias são bem resolvidas, lindas e amadas. Sereias não existem. Se existissem viveriam em crise existencial: sou um peixe ou um ser humano? Não têm filhos, pois matam os homens que se encantam com sua beleza. São lindas mas tristes e sempre solitárias... Runner querida, prefiro ser baleia!"

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“As pessoas se unem por mil razões, até por amor. Raramente o fazem, porém, pela felicidade. Sendo amor não precisa ser feliz, pensam. Sendo profundo não precisa ser bom para ambos, supõem. Repito: amor não é bom quando é muito bom. Só é bom quando é mútuo bom”.
Arthur da Távola

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